Manter a Liberdade

Um dia

Quando a grande rede surgiu

Rasguei o papel real

Preferindo o novo

O virtual

Sempre poupava nos selos

E na ansiedade da espera

Tendo a garantia

Dessas palavras serem mais rápidas

E ainda e eternamente secretas

E foi assim

Que as minhas palavras escritas

Passaram a serem mais rápidas

Do que as ditas

Com a vantagem

De te poder dizer coisas

Em tempo real

Que só me poderiam envergonhar

Porque um homem sente-se sempre

Apagado

Quando diz que ama

Dando a ideia

Que essas palavras em vez de juntar

O seu coração

Estão a despedaçar

E assim começou

A nossa estranha história de amor

Em que te dizia

Aquilo

Que mais queria

Em que mexia no fogo

Sem me queimar

Em que depois de leres essas palavras

Lias as mesmas no meu olhar

Sem que os meus lábios

Trocassem a mensagem

Ao neles tropeçar

E eu dava

E tu recebias

E eu não falando

Sabia que tu me ouvias

Até perceber

Que as palavras

Afinal não eram apenas dos dois

Que existia

Mais alguém que as costumava ler

Não por doença

Ou por mania da perseguição

Quem nos lia

Era apenas mais um espião

Que tinha em nós

A sua missão

Não que o que dizíamos

Fosse comprometedor

Para a segurança nacional

Porque o mal exista quando não se ama

O mal nunca vem do amor

Ele vigiava

Tudo

Porque o inimigo dos seus patrões

Não eram bombistas

Ou armas de destruição maciça

O seu inimigo

Era a liberdade

De raciocinar

O seu terror

Era o livro acto de se pensar

E esta é a história

De ter regressado às cartas

À ansiedade

De saber

Quando

As irias receber

Porque todo este sacrifício vale a pena

Sabendo que apenas Tu

As irás ler

Forma antiquada de comunicar

Bem longe da realidade

Da comunicação escrita quase tão rápida como o pensamento

Mas a única de

Manter a Liberdade

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 12/01/2017
Reeditado em 12/01/2017
Código do texto: T5879828
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