O FOTÓGRAFO

Um navegador de imagens

Mira o seu olhar clínico

E cirurgicamente capta

O motivo escolhido

Eternizando o belo

Aciona seu clik mágico e hipinótico

Paralisando sua presa

Numa mais que perfeita pose

Com o poder, só dominado pelos Deuses

Estanca o caudaloso rio que corre

Destranca o sorriso bonito

Apreende o beijo roubado

Abraça o abraço contido

Revela a alma das flores

Golpeia o sentimento mais fino

Em quadros abotoados na solidão das paredes

O fotógrafo, esse artista da vida

Armado com lentes potentes

Infiltra nos intestinos da cidade

Que em transe, vomita

Suas mazelas abissais

Seus demônios vulcânicos

Sua gente excluída

Suas dores mais doridas

O fotógrafo

Com seu olhar platônico e aéreo

Sobrevoa como um canto

Os encantos invisíveis

Na cabeleira das matas

Passeia em películas

A pele das águas

E extrai o ouro das tardes

Explodindo em cores

E o esplendor da luz e dos sons

Que ecoam inaudíveis

No ermo noturno

O fotógrafo, esse ser místico dos flash

Maestro das seletas formas

Harmoniza-se numa perfeita simbiose

Com o fotógrafo das letras (o poeta)

E se completam

E o poema, até então desnudo

materializa-se na mais bela imagem-mensagem

Vertida numa virgem folha de papel

Jogada num canto qualquer.

2016.

Carlos Abdon
Enviado por Carlos Abdon em 25/01/2017
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