O FOTÓGRAFO
Um navegador de imagens
Mira o seu olhar clínico
E cirurgicamente capta
O motivo escolhido
Eternizando o belo
Aciona seu clik mágico e hipinótico
Paralisando sua presa
Numa mais que perfeita pose
Com o poder, só dominado pelos Deuses
Estanca o caudaloso rio que corre
Destranca o sorriso bonito
Apreende o beijo roubado
Abraça o abraço contido
Revela a alma das flores
Golpeia o sentimento mais fino
Em quadros abotoados na solidão das paredes
O fotógrafo, esse artista da vida
Armado com lentes potentes
Infiltra nos intestinos da cidade
Que em transe, vomita
Suas mazelas abissais
Seus demônios vulcânicos
Sua gente excluída
Suas dores mais doridas
O fotógrafo
Com seu olhar platônico e aéreo
Sobrevoa como um canto
Os encantos invisíveis
Na cabeleira das matas
Passeia em películas
A pele das águas
E extrai o ouro das tardes
Explodindo em cores
E o esplendor da luz e dos sons
Que ecoam inaudíveis
No ermo noturno
O fotógrafo, esse ser místico dos flash
Maestro das seletas formas
Harmoniza-se numa perfeita simbiose
Com o fotógrafo das letras (o poeta)
E se completam
E o poema, até então desnudo
materializa-se na mais bela imagem-mensagem
Vertida numa virgem folha de papel
Jogada num canto qualquer.
2016.