O resgate de uma amizade
Em tempos imemoriais à humana cronologia
Éramos amigos-irmãos que na terra dos desertos e do fogo
Praticávamos a misteriosa e divina arte da Magia
E procurando agradar ao Mestre fazíamos nosso jogo.
Passou-se o tempo e pelo ego guiado segui adiante
Ferindo-te fundo na carne em uma contenda
Cuja vitória nada me trouxe de brilhante
Pois meus olhos estavam fechados por ambiciosa venda.
Séculos depois, resgatado pela dádiva da reencarnação
Reencontrei-te em diferente plano da Existência
Eu, preso a mais uma terrena e material experiência
E tu, em espírito a buscar vingança e relutante ao perdão.
Mágoas não guardo por querer-me o padecimento
Pois fui aquele que te abandonou à própria sorte
O tempo, deste tempo, já me trouxe o esquecimento
Porém, precisamos, ambos, de um novo norte.
Tu porque a alma é corroída pela sede de vingança
E eu porque preciso acertar as contas com a Vida
E porque a consciência do erro deu-me a esperança
De que o teu perdão não me deixará a existência perdida.
Reconheço como justo, em perdoar-me o teu receio
E não irei impor-te a minha egoística vontade
Mas preciso que aceites guiar-me pelo espiritual meio
Para que possamos resgatar nossa atemporal amizade.
Cícero – 21-12-2018