A Eternidade, quem se atreve?
Quem se atreve
A viver para sempre
Quem se atreve
A natureza
Ou os Deuses a desafiar
Quem se atreve
Viver para lá do próprio tempo
Até esse tempo se esgotar?
Apenas as palavras
Que representam
Tudo aquilo que fomos
Tudo aquilo que ousámos
Tudo aquilo que falhámos
As palavras
Não o nosso reflexo
Mas o corpo da nossa alma
As palavras
Que irão sobreviver-nos
A nós
À nossa civilização
E quem sabe
À própria humanidade
As palavras
Que hibernadas
Irão esperar o momento
Em que alguém as desperte
Do seu sono milenar
Para
Depois de as descodificar
Voltarem a serem lidas
E com tal gesto
Irão uma parte de nós ressuscitar
Quem se atreve a desafiar a Eternidade?
Quem se atreva a escrever
E com esse gesto
O seu pensamento num fóssil tornar
Fóssil que será descoberto
Um dia algures para lá do futuro
O fóssil da memória
Que nem a própria Eternidade
Conseguirá esquecer
Poderá apagar…