O MESTRE E O APRENDIZ

Batendo à porta do mestre,
diz assim o aprendiz:
-Que o mestre não me conteste.
Eu confirmo o que se diz,
neste país e afora.
Eu não sei de quem me possa
como vós podeis agora
guiar-me por esta vossa
estrada. Assim pediria,
poderíeis ser meu guia?

Eu vos peço que me aceite,
nesse novo aprendizado.
Entre os seus, que me endireite,
se estiver equivocado.
Nessa arte tão distinta,
na qual tendes maestria,
eu espero que consinta
na minha presença. E um dia
eu poderia, quem sabe,
aprender o que me cabe...

Eu fico ali, no cantinho.
Por vezes eu sou confuso,
me intrometo, não caminho
com calma. Faço mau uso
dos conceitos que ensinais.
E por ser tão apressado,
por vezes não lembro mais,
que um verso é desenhado
com o olhar no horizonte.
E já não bebo na fonte...

O mestre, lá no seu canto,
olhava o pirralho, atento.
Nele reparara um tanto,
e já tinha seu intento.
Pensava: -Pode até ser,
que essa amostra de gente,
algum dia venha a ter
certo jeito e, finalmente,
a madeira que eu entalho,
possa valer o trabalho.

Cuidava então, calmamente,
de ir passando adiante,
parte do saber, somente,
o que tinha por bastante.
Mais do que reter, dosar,
seu vasto conhecimento,
ele sabia esperar
aquele exato momento
de revelar seu saber,
na forma simples de ser.

E o aprendiz foi trilhando
os caminhos apontados.
Seguiu as setas e, quando
apresentou resultados,
o mestre elogiou.
Mas o que conta essa história,
e o mestre não contou,
é que é dele mesmo a glória.
Pois mestre que é mestre sabe
declinar do que lhe cabe.



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