Anne With an E - Exaltação à rubra cabeleira.
Em casa, estavam todos recolhidos
A mãe tentou retê-la com seus zelos,
A moça não ouvia seus pedidos.
O sol formando incêndio em seus cabelos.
Os cachos que, caindo incandescentes,
Desciam pelos ombros com fartura.
Em chamas ondulantes e frementes,
Se abriam , rubro manto em formosura.
Em meio a tantos outros,orgulhosos,
Cabelos quase sempre em negro tom,
Castanhos, entre todos numerosos,
Tingidos vários outros de marrom.
A moça ruiva mais se destacava,
Por ter o claro rosto salpicado
De sardas que ela tanto detestava
Gerando aquele humor destemperado.
Debaixo de um verão impiedoso,
Cascalhos faiscando estrada afora.
Em busca de um regato dadivoso,
Seguia a moça ruiva, sem demora.
Enfim, chegando à água cristalina,
Que espelha sua imagem em esplendor,
A pobre, descontente em sua sina,
O rosto vira e explode-se em rancor.
Por quê? - me diz - Oh! vida, caprichosa,
Aos outros, não me dar feições iguais?
Por que tanta má sorte dolorosa
De ser tão diferente dos demais?
E, ali, bem junto à fonte, entristecida,
Percebe a moça, então, um movimento
E a imagem, que jamais sonhou na vida,
Emerge-se das águas, no momento.
E ela, entre surpresa e apaixonada,
Descobre um moço ruivo à sua frente.
A pele, pelas sardas, bem marcada
E a mesma cabeleira incandescente.
Por hora, ela contempla, embevecida,
Aquele ser divino, exuberante
E sente como é doce ter na vida,
Ao lado, alguém deveras semelhante.
A tarde vem colhê-la, junto às águas,
Já quase adormecida de alegrias.
Do peito, se esvaíram todas mágoas.
Que tinha acumulado em longos dias.
Voltando a si, com a noite que descia,
Se viu, de novo, em plena solidão
O moço ruivo, arauto da alegria,
Perdera-se em meio à escuridão.
Ligeira, vinha pensativa, agora,
Naquele encontro do regato, à beira.
De sua vida fez-se, então, senhora.
Ficou feliz com a rubra cabeleira.
Foto: @nerd/google