Os antigos amores do futuro

Passar a limpo o verso

é não só exercício de sintaxear terrenos:

três quartos de substantivo num terço

de adjetivo seco - nem mais, nem menos.

Cada conta neste terço brusco

é pedra, estrela, gracioso, orvalho,

pérola, seixo, lívido, pó, molusco,

alga, semente, Isolda, cascalho.

Pois isto que de cima a baixo visualizo

é por sobre a minha infinita varanda:

olhos são lampiões, águas de Narciso,

molhados de alfazema, láudano e lavanda.

Porém sobre todos os antigos martírios

(este é o segredo de varandas construídas):

um par de rosas, anverso, Tristão, outro de lírios,

e todas as boas novas de todas as belas vidas.

Passado o verso a limpo, fica

passado a limpo também o sujo,

que se encaracola numa concha rica

navegando em definitivo caramujo...

Então, como todas as f(r)ases, só eu

inauguro o fim da triste borboleta.

Juntos, para sempre, qualquer Romeu

e qualquer Julieta.