... nem explodir mais

... em lágrimas, nem em gritos,

nem na poesia, nem cantando....

... vivo o sufocante dos sentidos...

já nem tenho quereres

 

... em estado de desistências

o mais palpável na vida

quando a gente nem se sente mais...

 

não é não querer

é não se sentir capaz, disposta...

viva

 

tentei me expressar tantas vezes

em mim estão morrendo os sentimentos

como cadáveres ao vento

sem enterrar... só se desfazendo de si mesma

e se perdendo

a impressão é de ser irrecuperável

e as vezes penso que eram tão valiosos.... mas só pra mim...

 

Coleciono mortes na laje da vida...

É uma dor muito grande ver

os ossos dos sentidos se dissolvendo.

Mas sei que existem olhos

que valorizam cada osso,

indistinta e especialmente...

Para que não percam o esplendor,

necessário à mudança de pele...

 

se há olhares... mas porque será que esses olhares nunca se cruzam

nem nos olhos misericordiosos às vezes sinto caber

sou injusta às vezes, eu sei, mas é um sentir

de desamparo, de abandono.... desimportante

o problema é quando a mudança não acontece...

e ao invés de trocar a pele, ela cai doente, apodrecida da vida.

 

Pele trocada cai.

E fica a carne viva - um tempo

Até vir pele nova...

É como a dor do amor.

Dói... mas a gente ama mesmo assim.

 

Mesmo colecionando mortes,

me sinto viva 

pros meus sentimentos

que me dizem: és milagre,

vives em mim!...

 

 

Rose Rocha (in memorian)

 

e

 

Maria

 

(Fevereiro de 2021)