Afeto contingencial; ou Amores, amores, amigos à parte.

“O preço do amor é o luto; baita promoção”,

o que, à primeira vista, pode até parecer poesia,

mas fato é que só narcisista vive de transação,

e a quantificação do afeto deveria é ser tratada como heresia.

Não falo mais então nesse aspecto da barganha:

amor se paga com luto? Sim. Mas promoção de verdade é a herança.

Propriedades amigas cheias de manha,

e bens imateriais encharcados de esperança.

No juizado de causas maiores a partilha do sentir é, pois, anunciada:

sem inventário e sem porcentagem, a lei diz apenas: contingência.

Quem chegar primeiro fala, e tem a causa dada,

quem se atrasa ou se afasta, paciência.

Nada mais justo, afinal terra improdutiva deve ser ocupada.

Não importa que o possuinte não are nem regue, ou que nunca construa um curral.

Só de estar ali contingente e plantando sementes já germinadas,

a presença vence qualquer agricultura virtual.

Isso não é uma reclamação e menos ainda um lamento;

brigar por terras amigas sem a possibilidade de cuidar delas é egoísmo.

Prefiro a “rasidade” do virtual com ocasionais tangências de momento,

que uma política de terra arrasada implementada por um narciso-casuísmo.

Rob J Cole
Enviado por Rob J Cole em 19/12/2022
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