ISTO OU AQUILO - VALE OU NÃO VALE
ISTO OU AQUILO – VALE OU NÃO VALE
Não sou papel largado nas gavetas e arquivos
Não sou a caneta nem a assinatura do livro ponto
Nem a borracha que jamais apaga o tempo
Nem isto nem aquilo
Não sou o sol a amanhecer, nem a mala que se fecha ao fim da tarde,
Não sou as estrelas e nem o guia
A estrada é imensa, ela mesma me guia
Não sou a noite nem o dia, perdida.
Não sou o ônibus a demorar, nem trem na encruzilhada
Ou gasolina na estrada, minhas pernas são apenas pernas,
Pés caminham na estrada
Não sou chegada, nem fim...
Por fim, não sou o que pensam de mim
Nem córrego a frente do prédio, que passa todos os dias.
Não sou as cadeiras vazias,
Nem o sinal que toca a cada cinqüenta minutos
Nem as vasilhas de comida no prato
Não sou refeição de pão e queijo
Nem o sal que dá gosto à comida
Muito menos a erva daninha
Não sou isto nem aquilo
Sou o que sou
Nada e tudo
Saudades e lembranças das marcas do tempo
Valeu os beijos e abraços
O tempo perdido com a conversa que se joga fora
As palavras não servem para nada
Se não tiver o corpo no corpo do outro
As mãos entrelaçadas
Nas piadas contadas, nas visitas realizadas
Nos passeios e aventuras de um carrossel vivido
sem registro de papel
Mais vale os sorrisos e as lágrimas que correm de nossas faces
A pescaria do pescar nenhum peixe,
Da represa da estrada largada
Do fogo e da fogueira do churrasco.
Mais vale as viagens distantes,
O desencontro, encontro e reencontro
Os cafés, almoços e jantas
Sem preparo dos pães e das pizzas.
Mais vale as ida ao teatro,
O cinema e o retrato
Da cena sem ensaio
Do improviso improvisado
Mais vale as festa, as danças e música
Do que qualquer palavra ou obrigação
Mais vale dizer o não e ser o filho pródigo de prontidão.
As farras e a poesia das estações que discorreram em 2005
Mais vale a inscrição inescrita da história da vida.
Márcia Plana Souza Lopes