POEMA DE AMOR

Quando nuvens se retratam,

quando na água esverdeada da piscina vê-se um azul de olhos,

quando as esquinas não são ansiadas,

quando a palavra deixa o papel e se solta na desenvoltura do grito,

quando a cálida tarde nos traz a lembrança de que somos naturais,

quando a forma geométrica sai de seu dogma e se dilacera em sorriso,

quando um pássaro cala seu canto e com olhos atentos escuta a floresta,

quando a passagem da festa deixa rastros de amanhã,

quando a simplicidade do humor deixa a ironia,

quando a sobriedade do guarda-chuva permite que os pingos adentrem nossa alma,

quando atravessamos a rua sem a desventura de que perdemos espaços,

quando fechamos o livro para ouvirmos o silêncio,

quando olhamos a flor sem o indefinível desejo de colhê-la,

quando notamos que respiramos um ar vital sem o qual não haverá noite,

quando dizemos que tudo que nos rodeia tem a forma primaveril,

quando sentimos que o frio acalenta, pois nos traz um auto-abraço,

quando as possibilidades cessarem sua existência e o curso do rio nos orientar,

será o quando que apaziguamos o momento e somos apenas nada,

será quando verdadeiramente estamos amando.

O ser que nos é supremo nesta hora,

ou mesmo um pedaço de queijo com goiabada.

2006

Sítio de Poesia

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ALFREDO ROSSETTI
Enviado por ALFREDO ROSSETTI em 21/01/2006
Código do texto: T101853