Gestalt

Meu soneto de amor ainda vagueia

nas intermináveis noites solitárias.

Não incomoda o sono do inocente

Não barulha sequer a madrugada.

Fica preso na garganta como um grito

E explode em arrepios imaginários.

Está sempre imerso em carícias doces

Em olhar atento, em segredos compartilhados.

Ele possui uma verdade nunca confessa

nem em cantigas assobiadas,

nem em linhas sempre pontilhadas.

Meu soneto de amor não é soturno

Possui entremeios, cheiros, cumplicidades.

E libera-se da minha mente sem nenhum ruído

fazendo-me viva, ardente, apaixonada.

Meu soneto de amor é peregrino.

Tramita amiúde no balouçar do vento

E retorna intacto, solene, companheiro,

após pousar uma gota de orvalho,

em cada suave fronte, ainda adormecente.