NEGRA CANÇÃO

Não me desespero

procuro guarida nas vozes dos poetas,

pastores de sonhos e suas armadilhas,

mergulhados nas nuvens de toda paixão.

Com a negra canção do pranto,

ao ausente que tanto de mim se despediu,

disperso as palavras frágeis da saudade

até amanhecer.

E saio às ruas molhadas de cada manhã

os olhos molhados, as pedras molhadas.

Tropeçando em mim, só ele vejo,

que nada mais existe

nem as tardes de ensolarar as cortinas

sempre abertas...

só essa ausência.

Tudo mais passou.

Mas ainda sigo a salvo,

não busco pouso nem louvo a dor

nela me desfaço.

Dela me disfarço nas vozes dos poetas.