A ALMA DO AMOR
Aonde me levas tu
Em teu beijo de sargaço e profundas águas
E risos de ostras e sonhos molhados
Onde tiras minhas escamas e nu
Me deitas em tua cama
De algas e risos
De pérolas?
E me comes com risos e maresia
E recitas afundamentos e navios submersos
E chamas os piratas de tua nau
E me chama de boa carne com sentimento
E os meus pedaços doces e salgados
Dás aos peixes que se enroscam em tuas pernas
E, feliz, te deitas na onda molhada
A fingir de sono o que é eternidade?
Misturado à cada vértebra navego dias de âncoras e enseadas
E o mar me abraça e se enrosca em minhas costelas marinhas
Por meus olhos vejo milhões de miúdas arraias a dançarem para ti
E Netuno, pai dos peixes e dos mares e do que há dentro deles,
Acena e dizem que a costa foi invadida por tainhas...
Eu que me pensei memória em pés e corpo elétrico
Ouço rumores de conversas entre séculos
E sinto que amar é estar no fundo
Flutuando o que era alma
Amorosa
Que te dei em um dia de nuvens baixas e doce orvalho.