Doce orvalhar do amor.

Sei que o continuo tempo

Sabe verter ganho em dano

Sabe roubar alento

Quanto dura um momento

Sem dor e sem engano?

Pode durar uma lembrança

E essa, bem garrida

Se agarra a esperança

Hoje sei que não se alcança

Uma lembrança mui querida.

Ela surge terna e pura

Ingenuamente linda

E logo se afigura

Doce forma da brandura

Que no peito finda

E no peito se desfaz

Como o orvalho nas flores

Sua sede satisfaz

Traz encanto e também traz,

Em partir, muito mais dores.

Ela abranda o que nos dói

Num instante é infinita

Noutro finda e traz rancor.

Porém, se ao partir há dor

De intensa gravidade

Se lhe fere vil saudade

Do momento de furor

Eu lhe digo: eis amor.

Que no peito insano arde

Por semblante ou imagem

Um sorriso uma paisagem...

“Ah! Tua lembrança, minha flor!”

Meu doce orvalhar do amor.

Maurício Ravel
Enviado por Maurício Ravel em 24/07/2008
Reeditado em 13/11/2008
Código do texto: T1095351
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