Doce orvalhar do amor.
Sei que o continuo tempo
Sabe verter ganho em dano
Sabe roubar alento
Quanto dura um momento
Sem dor e sem engano?
Pode durar uma lembrança
E essa, bem garrida
Se agarra a esperança
Hoje sei que não se alcança
Uma lembrança mui querida.
Ela surge terna e pura
Ingenuamente linda
E logo se afigura
Doce forma da brandura
Que no peito finda
E no peito se desfaz
Como o orvalho nas flores
Sua sede satisfaz
Traz encanto e também traz,
Em partir, muito mais dores.
Ela abranda o que nos dói
Num instante é infinita
Noutro finda e traz rancor.
Porém, se ao partir há dor
De intensa gravidade
Se lhe fere vil saudade
Do momento de furor
Eu lhe digo: eis amor.
Que no peito insano arde
Por semblante ou imagem
Um sorriso uma paisagem...
“Ah! Tua lembrança, minha flor!”
Meu doce orvalhar do amor.