NOITE LIQUIDA!!!
É noite sem programa
Que me impele para escrever
Lenta a imaginação, mas forte
E o sonho ganha vida.
Húmida a noite
Reflecte o teu sorriso
No liquido imaginário
Traçando na areia
Um perímetro só nosso
Lar imaculado
Solo sagrado
Onde erguem-se paredes de mistério
Sombra quente
Como muralhas e nós reis
Do nosso reino inventado.
Um liquido arenoso
E um barco em terra
Uma vela, e o mar
Conspirando em nosso favor
Negligenciando as marés
Para soprar calmo
No nosso destino como vela
Impulso em direcção ao luar
Que queremos apanhar
Como quimera (verdade certa)
Voando e querendo-a para sempre…
Esta sensação
Adornando o céu
Estrelas desenhando o teu rosto
Ponto a ponto
Recém nascida constelação
E o mundo faz sentido.
Mais uma onda que molha
Lavando-nos em pecado
Água fervendo de paixão
Noite de Maio
Rezando,
Provando o trago doce e o salgado
De crucifixo no pescoço pendurado
E memórias por fazer
Nova religião
E o paraíso prometido
Católico, caótico, latino
E os dedos de sacerdote excitado
Numa mão expõe teu corpo nu
E sobra a outra para afagar teus cabelos
Deixando sair teus sonhos
Por entre os poros capilares
Sedução voando
Como pólen de flores nocturnas
Nuvem de cor
Arco-íris florescente
Que cai na pele e a deixa sedenta.
Na areia a minha camisa suada
Rasgada,
Fúria controlada
Canalizada para dar luxúria
Preenchendo o chão com rosas
Tornando-o salão
Onde a lua nos convida para dançar
Ao ritmo das ondas
Que tocam baixinho
Nos solta, nos beija
Uma língua molhada
Injecta no teu sangue excitação
Saliva
Como mordedura de vampiro
Até ficares possuída
Alcançando a lua cheia
Louca
Sentença batida
Toque de seda
Do leito perfumado
Deitamo-nos nas pétalas rosa
E ouvimo-las a estalar
Libertando vapores
Que enchem nossos corpos com [perdição]
Hora de magia
Pressão ventral,
Sentes-te viva
Fermentada em demasia
Sobra imaginação para dar prazer
Até ao novo pico da lua
Que já se vê cozinhando
Em lume brando
Pausa e recomeço
Bem perto
As hipóteses voam florescentes
Infinitas
E o mundo faz sentido
No que tu acreditas.
Anjos sem asas, sem credo
Só precisam da fé
Pois o sonho é igual
A este poema
Que ganha vida e viverá
Enquanto soubermos de nós
Acreditando na eternidade
Alimentados pelo desejo
De cada lua cheia
Que me impele para escrever.
Miguel Lopes