CANTIGA PARA UM POETA

CANTIGA PARA UM POETA

Carmo Vasconcelos

Meu plantador de versos rama

Raízes velhas em mim derrama

Deixa que aspire os galhos verdes

Que cioso guardas

No canteiro das madrugadas

Vem e me chama!

Pela manhã deixa que eu seja

Beijo de orvalho e terra fêmea…

Mas se eu não for o teu ensejo

Ponho mordaça no meu desejo

Fico calada, durmo num canto

Choro por ti do passado teu longo pranto

Faço-me estátua, contemplação

Silêncio e sombra

E ouvirei muda tuas revoltas de desencanto

Se me quiseres

Musa que borda para ti a inspiração

Feita cigana troco-te a sina

Da pele mulher te dou o mel

E feiticeira de maga tinta

Pinto-te trovas sobre o papel

Se me quiseres

Vem e me ensina

Quero ser nómada no teu deserto

Corpo de areia a fustigar-te com o meu ardor

Oásis certo a céu aberto

Refrigério, fonte de amor

Abre um pretexto no teu contexto

E arma a tenda com destemor

Faço-te a cama lisa e rasteira

De palha a esteira

Cheirando a flor

Serei o teu lençol de lua

Suave calma do anoitecer

E de mansinho, brisa ligeira

Fecho-te os olhos meu bem-querer

Desnudo o corpo e em oferenda

De alma lavada faço-me tua!

***

Ouça a gravação na voz da autora em: http://www.antoniomiranda.com.br/Iberoamerica/portugal/carmo_vasconcelo.html

Meu espaço na Net:

http://carmovasconcelos.spaces.live.com

Carmo Vasconcelos
Enviado por Carmo Vasconcelos em 06/08/2008
Código do texto: T1116016
Classificação de conteúdo: seguro