Amar o mar...
Sou mar...
Meus sentimentos são as luas...
Elas me enchem e esvaziam...
Sempre no vai e vem inconstante, incontrolável de minhas marés.
Minhas atitudes são marés... Calmas... Brutas...
Que carregam sonhos e também devastação
Levam pedidos em garrafas, flores e sangue.
Amar o mar... Amarias?
Quem poderia o mar... Amar?
Quem o ama tem de beber de sua água salgada...
E quem se sacia com água do mar?
Ah... Quem me dera ser rio... E não machucar o palato de quem amo,
Não lhe arrastar para a morte, não lhe afogar em minhas angústias...
Matar-lhe a sede de amor... E assim despertar-lhe à vida
Amar o mar... Amarias?
Te arriscarias em meus perigos?
Navegarias em minhas águas tempestuosas e traiçoeiras?
Tu sabes que sou mar, e mesmo assim tu me amarias!
Sou também culpada, pois te amo e sempre assim permaneceria!
Pois quando teu corpo banhei nada mais eu queria...
E por longos meses fui calmaria...
Amar o mar... Amarias?
Tu te arriscas por escolha
Nadas em minhas águas... Lutas contra minhas ondas...
E vences.
Como podes amar a inconstância?
Como te misturas à minha substância?
E te confundes em mim...
E me doma em ti...
Me ganhas.
Te amo!
Sou mar... E navegas em mim... E beijas meu sal... Tocas minha areia...
Voa em meus ventos... Banha-se em minha espuma...
E respiras e respiras...
Dormes em meu balanço...
Não me teme...
Já me domastes.
Amar o mar... Amarias?
Tu amas essa imensidão...
Tão profunda sou que jamais me conhecerias...
Mas mesmo assim tu me exploras, estudas, desvendas...
Tira as vendas e máscaras de meus mistérios
E os bebe de um gole, e os acha doce
Sou sal!
Tu és o canal me filtra...
A nuvem que me precipita...
E sou rio...
E me amas, e me bebes e te sacias
E se volto ao mar me segues
Lutas, viajas e não me abandona
Pois tu amas o mar hoje
E amanhã também o rio amarias.