Afeto discreto

Tenho um afeto ocioso,

não dá alardes, é silencioso,

não exagera, é preguiçoso,

tanto se acanha, é cerimonioso...

É discreto e taciturno,

sempre zeloso, não importuno,

põe-se a enriquecer com seus infortúnios,

sofre na surdina, quão é soturno.

É tão incomum, pouco interpretável,

tem trejeito particular e irrevogável

e tentando explicá-lo com boa fala

a eloqüência diante dele se cala.

Não se enquadra em pintura de quadros,

nem em arestas de porta-retratos,

ou em vídeos de clipes gravados,

ou mesmo em sons bem elaborados.

Manifesta-se pouco, que não o alcança a vista,

há de se ver no peito, ou na essência do atos,

só sensibilidade terrível, acaso exista,

o perceberia sendo, então, revelado.

Camila Trideli
Enviado por Camila Trideli em 13/08/2008
Reeditado em 13/08/2008
Código do texto: T1126109