Sem mais palavras, amor

Nem mais palavras de amor

paralisa-me algum temor

importunar uma existência

uma outra circunstância

com um incômodo, a dor

um querer despropositado,

fora de hora e lugar

desajustado, indevido,

impróprio, ultrapassado.

Não há o que fazer

Nada mais importa

Nem teus retratos

ouso olhar, fecham-se

todas as portas. Eu sigo

desatento a conselhos

destoando do bom senso

persisto e desconexas

saltam no éter loucas palavras

se impoõe como desejos

delas mesmo, insanas

se atiram nas pontas de facas

se estendem nas lâminas

das navalhas azuladas e frias

nos cortantes cacos de vidros

sobre paredes intransponíveis

Já é vermelho o muro que nos separa.

O sangue escorre dele,

numa ponta espetada, varado o coração.

Clamo às musas por inspiração

Ausentes, distantes, não me concedem

Nada me permitem, tudo sonegam

As palavras nem tem mais de mim

se me recordo, eu não mais as tenho

eu não a tenho mais a me inspirar.

Eu penso ainda que ainda não a tive.

Eu só a amei desesperadamente. Só!