Dor e Amor

Se de amor algum dia sofrer,

Que seja pedra, cal, fogo, gêlo,

Pois que morno nada faz tão mal

Sendo quente o estado da agonia.

Se de amor algum dia sofrer

Que seja com lágrimas vertidas,

Mãos crispadas, olhar doente,

Corpo quebrado em estilhaços.

Se de amor algum dia sofrer,

Entregue-se a esse mal como remédio,

Pois que só passando pelo corte,

Conhece-se a poder de uma navalha.

Se de amor algum dia cantar,

Abra os braços, cubra-se de flores,

Perfume-se, e intensamente,

Numa reverência ao bem-querer ,

Seu corpo saberá reconhecer

O reverso da dor, o azul do bem,

E já tendo provado do sofrer

Podera, enfim, dizer com a alma:

Enfim: sei do chorar; sei do sorrir.