O coração bem vê

Não sou o teu alimento, ou o teu ar,

algo que precises para sobreviver

e um dia, acaso eu me ausentar

ainda muito bem irás viver.

E jamais seria alguma paisagem

que tu olhes e então no momento reflita

pensamentos que a desvendassem,

nem com a tua especulação mais erudita.

Não sou ainda alguma escultura

que ao tocares e analisar minuciosamente

te cativaria o mistério da formosura

e a necessitasse vê-la incessantemente.

Nem seria alguma música obsessiva

que não te ausentasse dos ouvidos

e somente da tua atenção então viva

portanto dela escutasses os alaridos.

Não sou decifrável aos teus olhos, nem aos teus ouvidos,

nem mesmo ao teu tato, ou quaisquer de teus sentidos!

Pois não me perceberiam tal como sou e eu te seria dispensável

só vendo-me com o coração daria-te conta do meu valor imensurável.

Camila Trideli
Enviado por Camila Trideli em 01/09/2008
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