O PESCADOR DE ILUSÕES

O sol, inclemente.

Fervia-lhe a mente.

Por confidente, o mar.

Segredava-lhe idílios,

Aventuras, impecilhos.

Noites de procela e medo.

Dias de vento, esperança.

Tantas vezes lançava a rede.

Fervoroso de fértil colheita.

Aplacar sua fome, sede.

Sabia daquelas águas.

Segredos, fendas.

Lendas, medo.

Pescava quimeras comuns,

Sonhos brilhantes

Pérolas utópicas.

Buscava-os com carinho.

Limpava-os um á um.

Zeloso caminho.

Temperava-os com sal

A escorrer de poucas

e sofridas lágrimas.

Amou tanto,

Foi amado.

Hoje só um canto,

No canto guardado.

O passado presente

Na casa emocional.

O presente ausente;

Apenas passageiro.

De um trem que já partiu...

Cioso, ciente.

Amealhava ilusões.

Na velha bagagem.

Para última viagem.

Arca de tesouros

Guardada com carinho.

...Um dia deitaria sobre ela,

Sonhando com naus, caravelas.

Pereceria sózinho,

Abraçado por quimeras!...

[gustavo drummond]