Inesquecível tango

Inesquecível tango

Sob teus olhos

Fogo de fêmea

Queima ao olhar-me como uma centelha

Olhos azuis

Cabelos negros

Rodopiando seus trajes vermelhos

Ora sorri

Ora se fecha

Tão concentrada que está na sua dança

Perto de mim

Sinto perfume

Puro feitiço através das narinas

Pára de chofre me olhando de lado

E estende o braço pedindo a minha mão

Fico chocado

Acho que não

Mas cedo logo sentindo a pressão

Pega minhas nádegas e, então me puxa

Contra seu corpo ensaiando beijar-me

Sinto-me arfante

Algo dormente

Mas adorando seu jeito indecente

Vira de costas num giro ligeiro

Puxa minhas mãos contra sua cintura

Cheiro o pescoço

Sinto tontura

No seu olhar que transpira loucura

Mete suas pernas no meio das minhas

Gira, me beija e depois me estapeia

Ergo minha mão

Ela deseja

Mas a inclino bem perto do chão

Tento beijá-la, mas ela resiste

Puxo-a num golpe, então, contra meu corpo

Olhos nos olhos

Nossos suspiros

E eis que ela escapa com três rodopios

Vou logo atrás com três passos ligeiros

E ela, então, abre um sorriso matreiro

Dá mais um giro

Joga os cabelos

Pára me olhando c’os braços abertos

E assim que chego

Fecha seus olhos

Desfalecendo ao sentir minhas mãos

Quase no chão

Sobre meus braços

Abre-me os olhos brancos de aflição

Perco-me, então

Cedo ao desejo

Surdo aos aplausos, tão louco que a beijo

(Djalma Silveira)