A seiva do teu beijo

A seiva do teu beijo

Teu beijo me embriaga como um sono

Um doce flutuar num rio manso

Silêncio de folhagem se batendo

Mas, antes que fogueira, um descanso

Da seiva do teu beijo, me alimento

E o sinto sob a fibra do cabelo

A pura essência viva de um momento

Suspensa em transe, como um pesadelo

E sinto nesta seiva um mel silvestre

Que queima igual a gota de absinto

Cheirando a alfazema de ar campestre

Das flores com que ergueste um labirinto

Teu beijo me incendeia, mas me acalma

Me bota em brasa a carne, o corpo inteiro

Prendendo, com o elo dos teus lábios

O meu suspiro igual ao derradeiro

Em cada beijo, morro, ressuscito

Desperto para um sonho que me anima:

Parar, do tempo, a roda no momento

De um beijo que, agora, não termina

(Djalma Silveira)