Retífica de Sentimentos

Óleo e gasolina,

Brilho, luz e momento

Na agitada oficina

Dá-se um novo experimento

Queria eu que inventassem

Uma máquina de compatibilizar

Um engenho em que passassem

Todos os santos a se cruzar

Que quem não gostasse de mim

Não tivesse nenhum desprazer

Evitaria a experiência ruim

Não chegaria nem a me conhecer.

E quem de mim se agradasse,

Pra muito perto se chegaria

Morasse onde morasse,

Seja na Escócia, Japão ou Bahia.

(E a máquina segue rodando

Vapor, apito e vontade

Correias acelerando

Fazendo acordar a cidade)

Que essa máquina cheia de graça

Cuidasse bem dos corações

Escreveria em cada vidraça,

De seu dono as intenções.

E assim a moça que passa

Leria lá, claro e em bom português

Avaliaria se é algo que a faça

Parar ali uma vida, ou apenas um mês.

(A máquina se torna sapiente

Ciente de nossos erros e vícios

A máquina também nos sente

E nos faz retornar ao início)

Que se evitassem soturnos mal-entendidos

E protegesse um sem-número de inocentes

De mil casos caducos e casamentos falidos

E de namoros malucos, e paixões doentes

Que não dessem frutos os males, e a dança

dos enganados a esmo não produzisse nada

Que jamais houvesse a indesejada criança

Para nunca, jamais ao longe ser atirada

(A máquina desacelera

Diminui o ritmo antes pesado

Repousa agora, em compasso de espera

Curiosa pelo seu resultado)

Que aproximasse com seu mecanismo

Os que procuram a pura virtude

E que os trouxesse, sem casuísmos

Ao local certo e à correta atitude

Para desfrutarem do superior bem

Aquele doce prêmio do verdadeiro amar,

Que é se dar a quem te quer também

E estando juntos, não ter mais que esperar.