Suspiro

Suspiro

Este instante é todo o tempo que me resta

E tua mão é tudo que me prende ao mundo

Pois eis que o tempo finalmente se esgota

E este suspiro pode ser também o último

O teu olhar é todo o sol que me interessa

E tua lágrima é o orvalho que me esfria

A tua boca que me fala desconexa

E que me força a respirar tocando a minha

Pois no meu peito há uma bomba que já pára

Já tão cansada das desilusões da vida

Mas a tua aura se reflete em mim tão clara

Que minha pele, no escuro, quase brilha

Os teus cabelos ainda pingam no meu peito

E um frio intenso me congela até os ossos

Quando o remorso se transforma em vasto leito

A carregar-me para a dimensão dos mortos

Vejo que gritas e me socas quando choras

Então, percebo que esse amor desconhecia

Que só colhia tuas flores quase mortas

Mas já não via o jardim que em ti floria

E eis que me somo às tuas preces para o alto

E é do teu hálito que trago o meu suspiro

Pois só agora, assim, envolto nos teus braços

Percebo seres mais que o ar que, enfim, respiro.

(Djalma Silveira)