AMOR DE OUTONO

Chegamos à idade de um amor quase póstumo,

de que o vivemos cercado de lembranças

de outros, à carona do outrora.

Um amor que se revela estatutário,

com compartimentos, pensado,

antipassional, precavido, medroso.

O amor que se trata dos dentes.

Esconde a calvície, amor de academia.

O amor com medo do ridículo, que ameia

com a seriedade quase de quem não ama.

Aportamos nele com um pé de cada vez.

Amor com gosto de derradeiro

e cheiro de sabonete importado.

Sem suor, de restaurantes e parques.

Amor em que o amor vem depois

das desculpas prévias. O amor do alívio

e dos aplausos. O amor que antes é saudade

e aposta, lúdico. No entanto,

assim como em todos os tempos, também é visceral,

risco. Necessário.

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ALFREDO ROSSETTI
Enviado por ALFREDO ROSSETTI em 23/09/2008
Reeditado em 18/10/2015
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