AMOR DE OUTONO
Chegamos à idade de um amor quase póstumo,
de que o vivemos cercado de lembranças
de outros, à carona do outrora.
Um amor que se revela estatutário,
com compartimentos, pensado,
antipassional, precavido, medroso.
O amor que se trata dos dentes.
Esconde a calvície, amor de academia.
O amor com medo do ridículo, que ameia
com a seriedade quase de quem não ama.
Aportamos nele com um pé de cada vez.
Amor com gosto de derradeiro
e cheiro de sabonete importado.
Sem suor, de restaurantes e parques.
Amor em que o amor vem depois
das desculpas prévias. O amor do alívio
e dos aplausos. O amor que antes é saudade
e aposta, lúdico. No entanto,
assim como em todos os tempos, também é visceral,
risco. Necessário.
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