O acaso do tempo

No principiar da estação das marés,

o acaso do tempo e sua imprevisibilidade

engendrou o meu encontro com esta mulher,

que mais se assemelha a uma preciosidade.

E eu que me apresento como versejador,

Vejo-me um garimpeiro das profundezas,

Quase fóbico na iminência do torpor,

Que a mim me causa a tua beleza.

Tenho estado feito o homem monocular,

Com a visão vidrada no teu semblante;

Que quase me afogo nos teus olhos de mar,

Não fosse a acuidade desta amante.

Deus, quão perfeito é o universo!

E a simetria contida no acaso!

Há tanta felicidade se vivo perto

Desta senhora de sorriso largo.

Nem o tempo e sua cadente cronologia

Foram óbices a essa paixão singular.

Invariavelmente me emudece a sinfonia

De tua veludosa voz a cantarolar.

E eu que era um qualquer feitor

De estrofes angulares e pobre rima,

Vejo-me tal qual um beija-flor

Inundado no néctar de tua retina.

Deus, quanta harmonia contém o viver,

Embora não sejamos dele o condutor!

A incógnita do tempo detém o poder

Determinante desse desmedido amor.

Vivo os instantes eternos e alvissareiros,

Pois tudo se me apresenta radiante;

Agora que feito abençoado garimpeiro,

Tornei-me senhor do mais belo diamante.