O TEMPO DA NOSSA INFÂNCIA

O TEMPO DA NOSSA INFÂNCIA

Cada vez mais estou convencido

Que de todas as fases da vida,

A única por que terá valido a pena

O ter nascido,

E ter vivido,

É o tempo da nossa infância,

Quando não se tem passado nem futuro

Mas tão somente o “presente”.

Por isso é que me dói

Ver crianças tantas ao desamparo

Com fome, e desamor;

Seres belos e frágeis como a flor

A perderem o viço, a cor,

Antes do tempo, antes da idade,

Antes da inevitabilidade

Das incertezas e durezas da vida.

Passem os dias, passem os anos,

Passem até os desenganos,

Mas o que nunca passará, certamente,

São os momentos de certo tempo

Que se engastaram

No ainda tenro coração da gente,

Marcas de ferro incandescente

Que hão de perdurar vida fora.

Ainda ouço ao longe, muito longe,

Alaridos que não se perderam na lonjura

Quais vagas, ora rijas, ora mansas,

Transformando tempestades em bonanças

No mar revolto desta vida;

E eu frágil barquito à deriva,

De olhos fitos não sei onde, à procura

De minha infância que sei irremediavelmente perdida.

Eduardo de Almeida Farias

13.10.08

Nota: homenagem às crianças no seu dia

Eduardo de Almeida Farias
Enviado por Eduardo de Almeida Farias em 15/10/2008
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