Em algum lugar do passado
Lá, onde minha mente pode chegar,
mas meus olhos não podem ver,
lá deixei a tua imagem
Lá ficaram meus dias de glória,
que hoje na memória apenas
me fazem chorar...
Lá, onde perdi minha identidade,
trouxe para o agora
a sina triste de amar
sem me sentir amor...
Ter sem possuir,
existir por viver, sem querer...
Lá a felicidade me acordava,
a parcialidade da vida me tocava
e eu sentia que tudo valia,
até o pranto derramado...
Hoje sou destroços do passado...
Carruagem que paga pedágio...
Lágrimas que cavam espaço
num rosto que vê o presente,
mais ausente que ele está...
No passado a respiração ofegante do amor...
A simplicidade da flor colhida
e colocada no vazo do tempo,
à espera de um carinho
que passou...
No passado estão meus motivos,
meus heroísmos...
minha vontade de conquistas!
Sou pedaço despedaçado
de um passado glorioso...
Sonhos mutilados,
valores invertidos...
Paisagens de outros tempos,
nos meus versos inda vivos...
Sou vida sem vida,
amorfa vontade de partida,
encanto sem valor...
Sou o calor da saudade
da mortalha que me veste...
Não sou nada,
nem a peste posso ser,
sou desertor...
Vim à procura do amor,
caminhei como um cego sem bengala...
Minha musa ainda estala,
neste morto coração...
Sem razão, olho prá trás...
Como louco, estendo a mão
e recolho a fragrância da cinza
que foi tudo o que restou!
Em 17/10/2008.