O coração

Ela de mansinho abriu o meu coração

Tateando com os dedos foi entrando com atenção

De um lado a outro mexeu e nada se escondeu

Apavorado fiquei, pois ela nenhuma segurança prometeu

Forte como o vento ele bateu

Dos seus toques me lembro... o meu corpo contorceu

Arrepiado as mãos de veludo aqueceu

E na tela colorida o meu coração apareceu

De mansinho ela foi falando

Carinhosamente o meu coração foi estudando

Resignado com os homens de branco fui me indignando

E minha ansiedade ao topo já estava aumentando

Virado de lá para cá, de cá para lá o coração ia se revoltando

As suas batidas contínuas fui logo amando

Sua vulnerabilidade, tal como as lágrimas, seguiu apavorando

E vendo o meu coração - na tela cinza - me peguei chorando.

Violentamente o sangue ia passando

O tamanho era normal e o rio vermelho continuava inundando

Azul, amarelo e cinza, a sua cor aos poucos se modificando

E com ele meus olhos que a cama fria ia molhando

A vida é um sopro que vai nos arrebentando

Senti como se ela fosse nos amassando

No interior desse liquidificador gigante vamos nos despedaçando

E sai da clínica sentindo que a vida não estou desperdiçando

Já acordado do pavor da dor

Não aceitei porque o coração tem a medida de uma flor

O toque, o sopro, o movimento do pequenino órgão causa terror

Não deve ser por acaso que nele guardamos e depositamos a esperança e o amor.