Antigamente...

Ela não chorava mais como antigamente.

Não que chorar fosse bom ou coisa assim,

Mas o choro dela significada pelo menos vida, pelo menos sentido,

pelo menos para mim.

Seus olhos se desviavam sempre, mas não como antigamente

Não como querendo me encontrar depois do giro,

Mas como querendo se afastar, sumir, me esquecer, desistir.

A vergonha estava presente. O medo, a dor, a solidão presentes.

Tudo estava presente ali, menos ela.

Seu sorriso não era mais meu; nem exclusivamente, nem parcialmente - ele simplesmente não era... não como antigamente.

O que justamente me levava ao exercício de indagar: estaria ela realmente triste ou sorrindo outros sorrisos para outros olhares? Não cheguei à conclusão alguma – pelo menos não quis chegar.

O que seria melhor: o silêncio dela ou sua ausência? Optei pelo silêncio – fragilidade toda minha; indiferença toda dela.

Escolhi a dúvida. Mas quem disse que um dia tive certeza de alguma coisa?

Minha vida não era mais como antigamente. Eu agora só existia e não mais usufruía. A decepção, a lástima, o lamento e a desordem interna do meu ser eram resultados claros e naturais dessa perda inaceitável.

Todavia, a maior das minhas perdas era o triste lamento de conscientemente saber que o antigamente não era assim tão antigo e a constatação de que o bom, verdadeiro e antigo de que eu tanto confabulava (e me esforçava em lembrar) não durara nem um punhado de dias.

Mas como era bom me recordar de antigamente...