A HISTÓRIA DA VIDA DO TOLO POETA E CAVALEIRO SOLITÁRIO E A LINDA PRINCESA RAIO DE SOL

Sou um solitário e infortunado cavaleiro,

Que nunca viveu uma aventura decente.

As coisas boas da vida me abandonaram por inteiro,

E a minha armadura não é reluzente.

Cavalgando solitário num verde descampado,

Vejo uma densa floresta no horizonte.

Tenho o pundonor no peito guardado,

Não fujo daquele que me afronte.

Ao adentrar na floresta para descansar,

Encosto-me à sombra de uma árvore frondosa.

Bebo água para à minha sede saciar,

E adormeço ao roçar de uma leve brisa carinhosa.

Sou acordado por gritos de uma mulher,

Parece-me que está sendo atacada.

Agarro-me à espada e corro para ajudá-la no que puder,

E parto em defesa da donzela desesperada.

Minha mente começa a imaginar,

Se ela está sendo atacada por um ou mais dragões.

E alivio-me ao constatar,

Que é apenas um trio de desalmados ladrões.

Atiro-me para defender a bela donzela em perigo,

E surjo diante de seus olhos cheios de medo e apreensão.

E lhe digo: Não temas, meu corpo será teu seguro abrigo,

E te defenderei com a minha espada, alma e coração.

A bela estava de cabelos soltos e faces rosadas,

Colocou-se atrás de minha proteção e a faria com total intento.

Os ladrões chegaram e lutamos com nossas espadas,

Venci, mas não me escapou um ou outro ferimento.

Ela me agradeceu beijando-me o rosto,

E me abraçando de forma carinhosa.

Disse que a salvei com muito gosto,

E que não tinha uma vida perniciosa.

Ela prometeu me recompensar,

Mas disse-lhe que tesouro algum iria aceitar.

Ela pediu-me para a acompanhar,

Até a sua carruagem que por ela estava a aguardar.

Fui montado em meu cavalo ao seu lado ao longo do caminho,

E vislumbrei um imponente castelo.

Percebi que ela me olhava com puro carinho,

E vi que ela era o ser mais incrivelmente belo.

Fui recebido pelo rei com real gratidão,

E agraciaram-me com um lauto banquete.

A donzela sentou ao meu lado segurando escondido suavemente a minha mão,

Quase caí de meu frágil tamborete.

Fui convidado a permanecer o tempo que desejar,

E recolhi-me aos aposentos a mim destinados.

Sabia que ali não poderia muito me demorar,

Pois tenho outros mundos a serem desbravados.

Demorei-me em dias quase uma vintena,

Ficar mais, poderia ser prejudicial para mim.

Sempre que desejava descansar, encontrava a bela pequena,

Nos salões e também no imenso e lindo jardim.

No dia seguinte eu decidi partir.

Não poderia ali mais ficar.

Dali eu teria que sumir,

E seria assim que o sol raiar.

Meu cavalo no celeiro fui encontrar,

Selei-o e quando ia sair, ele resolveu empacar.

- Maldito; justo agora você tinha que me contrariar?

Você sabe que não podemos ficar

Senti-me um tolo por estar com um cavalo conversando,

Ele deu uma curta relinchada.

Virei-me e a bela donzela estava me olhando,

Com braços cruzados e me disse com a face rosada.

- Irias me abandonar meu salvador?

Por que farias isso comigo?

Agi mal em algum instante com o senhor?

Perdoe-me se fiz algo errado contigo.

Aproximei-me dela com sutileza

Olhei-a nos olhos profundamente.

Segurei suas mãos delicadamente,

E contemplei por muito tempo em silêncio a sua tenra beleza.

Respirei fundo e criei coragem para começar a falar,

- Não estou te abandonando meu secreto amor.

Sou um pobre cavalheiro e nada tenho a te ofertar,

Estou sobrevivendo dia após dia até o sol se por.

- Estou fugindo de um sentimento que não devo sequer imaginar em possuir,

Estou fugindo de um longo período de sofrimento.

Sei que não deveria deixar esse amor surgir,

Juro que não agi com torpe planejamento.

- De me apaixonar por ti não tive a mínima intenção,

Por isso eu estou a esse reino abandonando.

Não quero quebrar teu coração,

Não quero te deixar chorando.

- Não minto que em meu peito uma imensa chama arde,

E não devo alimentá-la de forma alguma.

Devo me afastar de ti, antes que seja tarde,

Em meu coração só haverá uma.

- E essa uma é você minha linda princesa,

Mas se ficar, não poderemos viver juntos.

Isso é a mais pura certeza,

Pois fomos criados em diferentes mundos.

- Não darei a mais nenhuma esse intenso amor,

Pois ele só pertence a você.

És a minha estrela de intenso fulgor,

És aquela com quem eu adoraria viver.

- Chamas-me de ser seu salvador,

Mas isso eu não o sou.

Eu estava vivendo uma vida cheia de torpor,

E você é quem foi que me salvou.

Tentei passar todo meu sentimento num beijo,

A testa suavemente beijei primeiro.

Os olhos, em seguida, beijá-los eram o meu maior desejo.

E nos seus lindos lábios, me entreguei por inteiro.

Tive seus sedosos cabelos por um breve instante entre meus dedos,

Como eu amava essa pequena.

Por um momento, esqueci de todos os meus medos,

E a nós acariciou uma brisa amena.

E foi, logo depois desse instante que senti meu corpo sendo puxado com violência,

E fui levado à presença do rei imediatamente.

Fui repreendido com extrema veemência,

E fui mandado à morte rapidamente.

De quebrar a tua honra fui acusado,

E me jogaram no calabouço.

Chegando o amanhecer eu serei enforcado,

E o urro do povo ao longe já ouço.

Fui conduzido até o cadafalso,

E me atiraram frutas podres e xingamentos.

Meu coração batia em descompasso,

E minha alma pedia que chegasse logo o meu momento.

Ao longe vi minha pequena ao lado do sorridente rei,

Ela estava com os olhos lacrimejantes.

A ninguém amei como você, sussurrei;

Nunca amei assim antes.

E senti o roçar áspero da corda em meu pescoço,

E vi o cadafalso de abrir,

Foi um momento ansioso,

Quando notei a corda se partir.

A muito contragosto o rei me libertou,

Com a condição de àquele reino não mais retornar.

O meu cavalo ele me entregou,

E disseram que da minha espada não iria mais precisar...

Com a honra despedaçada,

Montei em meu fiel alazão.

Dali saí em disparada,

Querendo me afastar daquela multidão.

Quando eu já estava distante,

Resolvi dar uma última olhada.

Não acreditei no que vi naquele instante,

A minha princesa numa alva égua vinha montada.

Disse que renunciou a sua vida para viver a minha,

Mas lhe respondi que nem mais uma vida tinha agora.

Disse ela então: - Façamos uma novinha,

Nesse mesmo instante, agora.

E naquele entardecer,

Com o sol ao céu alaranjando.

Uma vida começamos a fazer.

Com nós dois lado a lado cavalgando.

O horizonte nos engoliu lentamente,

Pedimos abrigo numa casa na beira da estrada.

Ela não fingia estar contente,

Não imaginava que por mim ela era muito amada.

O tempo passou e nosso amor se consolidou,

Descobrimos que éramos um do outro a cara-metade.

O nosso amor nunca se abalou,

Ele era baseado na mais firme verdade.

A cada dia que passava a amava mais que o dia anterior,

Construímos com muito esforço uma agradável casinha.

Era nela que nos vivíamos com muito amor,

E lá tivemos uma linda menininha.

O tempo foi passando e mais filhos tivemos,

Educamos todos eles para serem pessoas decentes.

Aos céus sempre agradecemos,

Pois nenhum dos nossos filhos caíram doentes.

Chegou a velhice, e o destino comigo foi injusto,

Fez-me ver você se tornar um anjo antes de mim.

Controlei-me a muito custo,

Pois sempre achei que eu fosse o primeiro a encontrar o fim.

E agora, sentado numa cadeira feita com minha mão calejada,

Sinto que as forças estão começando a me faltar.

Pressinto que minha hora é chegada,

E acho que é você que vem me buscar.

Termino esses últimos versos para ti,

Fosses e para sempre serás o mais intenso amor da minha vida.

Fostes o amor mais intenso que senti,

Minha amada princesa querida.

Deito em meu leito numa noite de luar,

Deixando um pequeno toco de vela acesa.

As horas passam e a chama vai se apagar,

Sinto que irei me juntar novamente a ti, minha linda e doce princesa.

29 / 12 / 2005

POESIA 1562

Outra poesia feita à Solange, a que por muitos meses foi o 'Meu Sol de cabelos negros', foi o meu mais fiel amor platônico.

Perrelli
Enviado por Perrelli em 29/10/2008
Código do texto: T1253637
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