OUTONO

outono lá fora e em mim, amarelam palavras

de amor, cansadas de se repetir para ninguém.

O amor que imaginei, um eco dos meus desejos,

Sonhos, canções que ninguém ouve, miragens.

Caem as folhas do meu romance, caem tristes.

Os brinquedos que inventei para colorir os dias

quedam-se estéreis. Nem um sorriso se abriu

para o girassol, nem a lua o viu e, apesar dessa

solidão, tudo continua, as estações continuam.

É outono, fez-se enfim a morte que, lá fora, é

promessa de vida, túmulo e ventre do que virá.

Em mim, sonhos, palavras e sementes mortas.

Outono enganado e vão, sem promessa ou chão.

Saramar Mendes

Saramar
Enviado por Saramar em 22/03/2006
Código do texto: T126909