AMAR É SENTIR TUDO FORA DE LUGAR

O amor produz coisas bem interessantes:

O homem é capaz de desenhar uma flor

Com apenas um toco de lápis.

A sensação é que terá feito uma obra de arte

E com essa preciosidade terá chegado (como artista) ao ápice.

A mulher se produzirá com tal cuidado e esmêro

Que pensará ser a Madonna para pronta entrega.

Nem passa pela sua cabeça perguntar ao espelho

Se a roupa vestida e seus badulaques tem um ar brega.

O homem calçará a meia para que a costura fique certinha.

Andará em linha reta para aprumar o tórax proeminente.

Terá lavado e polido todos os utensílios de sua cozinha.

Preparará os temperos como se fosse um cozinheiro experiente.

Ela chegará na hora certinha conforme combinado ao telefone.

O batom será o toque mais sutil em seus lábios cobiçados.

Aquela pintinha que não quer sumir lhe deixou insone.

Nada que uma maquiagem bem aplicada não a tenha sufocado.

O homem não sabe mais onde fica o norte e menos ainda o sul.

A mulher pensa que o barulho na vidraça é um doce violino.

Ele coloca o som para rodar (um pagode) e pensa que é um blues.

Ela equilibra seu corpo escultural sobre aquele salto hiperfino.

O amor não emburrece e muito menos anestesia o nosso juizo.

Apenas muda tudo e nada mais está onde costumava estar.

O amor anula o tempo e a gravidade nem existe e nem é preciso.

Quem ama sabe que o mais inteligente é à essa sensação se entregar.