A estação móvel

Quando eu , de saudades, fico agudo

Eu viro só ouvidos.

Todavia, este meu quando

Involuntariamente é para sempre:

De noite, nas ruas, à mesa do jantar.

O dia todo, olhos e pensamentos,

Todo o instante esperando-te,

Todo desembarque, aguardando-te

Mas o interstício dos tempos

Entre um e outro, fixa o freio

Insiste em não passar

Só porque te anseio.

Passa o vento e a brisa e a ventania

E, paulatinos passam os dias.

Pousam aqui os grandes artistas

Do circo, da música, do teatro e da vida.

Em laivos do buquê de flores,

Dos outros, vieram todos os amores,

Só você não veio.

Os filmes em evidência,

E cai a chuva, baixa a garoa,

O valor da moeda

E a intrínseca qualidade moral.

E assustadoramente eleva a inflação,

Com ela, o custo das tarifas,

Enquanto estreita o tráfico de influências

E o desamor em ignominiável decadência.

A falência das firmas e da compreensão

Avoluma a vacuidade entre os planos

E apressa o fechamento das agências

De recursos e sonhos humanos.

Dispara minha pressão,

Dissolvem-se minhas latentes veias

E encharca a minha camisa

E transparece na palma das mãos

Esta saudade incontida

Coloquialmente exibida

Que fez da solitude de minha vida

Uma descomunal estação.

Cid Rodrigues Rubelita
Enviado por Cid Rodrigues Rubelita em 30/03/2006
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