O FULGOR DAS NOIVAS

Ai como amo as pérolas brancas

encantando o fulgor das noivas.

Descubro nelas a neve dos sonhos,

a benzedura de amanhãs felizes

desenhados no calor das imagens

onde tudo é pintado a cor de rosa.

Para que servirão os sorrisos

senão para clarear a esperança?

É no coração das noivas no olhar

que desprendem sem persianas

e na fé indómita no cerimonial

testemunhado por ramos de flores

que nasce o corpo da confiança.

Surgem alvas nas sacristias velhas

das igrejas ou no pó dos cartórios

e tremem de loucura e derramam

lágrimas misturando-as com suores.

As noivas são seres magníficos

viajando na etérea cosmografia.

São estrelas, musas, cometas

em indisfarçada fuga no espaço

deixando a sua farta cabeleira

escondida sob o véu de organdi.

Os noivos silenciam. São poetas

de outras viagens. Vão na esteira

do céu na terra, dum futuro grandi

loquente, ficando tudo simbolizado

num pequeno anel de ouro ou de aço.

As noivas parecem-me pássaros

em voo suspenso no ar, parado,

nas cercanias da santidade. Trazem

um aro sem mácula sobre a cabeça

e dão tudo, voluntariosas de amor,

mesmo que ninguém o peça. É essa

a sua claridade. O seu singular fulgor.

E com um ligeiro retoque nos cabelos

alimentam a festa; afastam os pesadelos.

José António Gonçalves

(inédito.30.10.04)

JAG
Enviado por JAG em 03/04/2006
Código do texto: T133122