O Menino, o poeta e a rosa

Edson Gonçalves Ferreira

Cheguei em casa, triste

Encontrei o Menino na varanda

Brincava de contar os pássaros

Os que voam em cima da lagoa, à tarde

Dize-Lhe da minha perda

Ele, sem palavras, sorriu

Depois, me disse

Que lá, Judith, está divinizada

Passei a mão nos olhos, enxugando as lágrimas

O Menino pôs a mão no queixo

Feito eu na caricatura do Ziraldo

Olhou bem nos meus olhos

Sabia que eu estava alegre e triste

Triste, porque ela partira

Alegre, porque a dor dela cessara

Ele correu e me abraçou nas pernas

Como fazem as criancinhas

Explicou-me que nós não entendemos

Ninguém sabe da hora do trânsito

O Menino me disse que tudo lá é lindo

Retruquei que a nossa mão não chega tão longe

Contei-Lhe como acontecera o sepultamento dela

Que ela contratara até um clarim para tocar

Enfrentou o câncer com uma dignidade admirável

A elegância mesmo na adversidade

O Menino, então, me falou que Sua Mãe estava com ela

Maria nunca a deixara

Eu chorava, sem consolo,

Ele, então, pulou no meu colo

Deu-me um beijo no roso e sumiu

Fui para o quarto e dormi

Acordei, de madrugada

Escrevi este poema

Agora, quem chora é o céu

A chuva fecundando o solo

Onde, agora, ela é rosa

A rosa encantada do Senhor,

Até logo, Judith Amaral!

Divinópolis, 15.12.08, às 3h30m da manhã

edson gonçalves ferreira
Enviado por edson gonçalves ferreira em 15/12/2008
Reeditado em 15/12/2008
Código do texto: T1336242
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