ESSE ANO

'e na mesa passe, sim?, um pano.'
o garçon, de longe, faz um abano.
eu penso: o que fiz todo esse ano?
terei sido (ah, tomara!) bem lhano,
me terei portado qual carcamano?
separa-Nos um estrelado Oceano,
vivo na Terra, ELA está no Arcano.
hasta ahora, não entrei pelo cano,
e acho que terei um neto arturiano.
(o garçon) 'te vas a bibir, paesano?'
eu resmungo: callate, piano, piano!
não mais pretendo ser um bacano,
lá, na ciência, eu fui um baconiano.
afinal, teria sido melhor ser fulano,
ou, pior, me chamarem de beltrano?
chamei cão de dog e gato, bichano,
nunca li (sequer!) um texto borgiano.
(bibir con el garçon mano a mano?),
(afinal, que idioma uso: o lusitano?)
estará minha nau (já?) a meio-pano?
teria sido ELA na Terra uma soprano,
ou sonho: abajo el telon, baixe o pano?
ai, parece mais um drama mexicano,
o garçon tem sotaque montevideano.
esqueço o meu obrar (foi mundano?)
e grito: garçon, me traga um cinzano!

Moacir y Selena
oh Corazón, sin enbargo,
me voy a Ti en la Argo!