Agora que me atirei no abismo

a porta aberta

a luz vazante

o coração sem tramela

a linha que tece

e faz o ponto com a agulha

a costura

o furo e o contraponto

a dois

o sonho e a realidade

a cidade e o campo

o bom e a maldade

tudo é plano e altitude

atitude e coragem

eu e você

juntos

formam uma complexa unidade

a minha rua é longe da tua

a lua e o sol

complementam-se

mesmo distantes

a porta aberta

meio claro-meio escuro

assim fico meio obtuso

meia luz

confuso

como fuso horário

fico naquela

sem onda

sem chance

tristonho

a alegria é a prova dos nove

é o que move o mundo

e cria cores e magias e tardes primaverís

sem isso

nada não se procria

não há abelha e nem borboletas

no ar

a porta aberta

é uma possibilidade

se tudo se fecha

não há contato

tato

feijão com arroz

é bom no prato se mistura

combina

o gosto

do seu beijo ainda na boca

chicle de melancia

sua pele macia

teu gosto é minha alegria

fundamental

todo dia

a porta aberta

olho na fresta

a linha que me tece a você

não pode romper

e são tantos contra

o vento que sobra

e vira tempestade

a cidade que escurece

a chuva que cai

poderia levar as as mágoas

as dores

levar a poeira

do passado

o contraditório

o que não é fato

aliviar loucura

de cada um

e que cada ato fosse novo

a porta aberta

luz que escancara

me faz ver o mundo sem névoa

tudo claro

quem ama e quem trama

a distância explicita o implícito

o agito da cidade

o trânsito

a solidão me faz mais denso

tenho um caminhão de sonhos

suspenso

e pensamento de montão

o que me falta é tempo

mantra

meditação

e uma canção a dois

com você naquela serra

ou na praia

ou onde queira

mas não me deixe a deriva

no ar

agora que me atirei no abismo

agora que preciso

também

de aparo

amparo