O Menino e a enchente e o poeta

Edson Gonçalves Ferreira

Dormi preocupado

Chovia muito e já sabia da inundação

Acordei com a sensação de algo molhado encostado a mim

Abri os olhos e o Menino estava na minha cama

Sua camisola azul, bem azul estava molhadinha

Adivinhei na hora de onde Ele viera

Ele estava com os olhos cheios d´água

Não perguntei nada

Ele me contou, então, que a enchente é a conseqüência

A consegüência da falta de amor entre os homens

Entre os homens e entre os homens e a Natureza

Eu ouvia tudo silenciosamente

Ele falou que sabe do meu trabalho nos jornais

Sempre combato a invasão das áreas de preservação ambiental

Sou uma pedra no sapato dos políticos que lavam as mãos

O Menino contou-me que, quando era criança, a chuva não fazia isso

Também não havia tanto asfalto

Também não havia tanta ganância para construir arranha-céus

Ele falava, falava, falava...

E enquanto Ele falava sua roupa secava

Eu estava de bruço, segurando o queixo com uma das mãos

A visita privilegiada me encanta sempre

Depois de contar as novidades, o Menino saltou da cama

E, pluft, desapareceu

Só ficou um perfume no ar.

Divinópolis, 18.12.08

edson gonçalves ferreira
Enviado por edson gonçalves ferreira em 18/12/2008
Código do texto: T1342293
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.