Barco vida

Um barco e um sopro tecendo as velas que derretem espumas,

desenhando em ceras os sentidos que trago em mim,

ecos de uma existência naufragada, calando vozes que sempre ouvi

pelos labirintos que percorri sem jamais encontrar o fim.

Cruzo meu sul norteando meus passos pelas asas do vento,

toca meu corpo o beijo do tempo perdido em espaços vazios

onde em lampejos de sobriedade vejo no todo que sempre fui,

resquício da saudade maquia a face espelhada no leito de um rio.

Sou como um porto, uma ilha ancorada nas rochas que construí,

um caminho, o atalho mudo de uma vida que não descobri,

um sonho lúcido vestindo de ilusões as realidades que acreditei,

assim como serenas, verdades que um dia insana vivi.

Transpasso a porta descobrindo o mundo que desenhei em crepom,

com mãos de aprendiz, fui feliz nessa oficina onde em vida me formei,

entre o sim e o não recrio minha noite sob novo tom,

uma alma sem destino pisando a terra onde em verdade me lancei.

Um barco preso em mares por nostálgicos naufrágios...

Sou o passado nos sonhos onde habitei, uma realidade despida,

uma sombra vestindo a vida, uma gota apenas

nesse imenso oceano chamado vida.

02/03/2006

Aisha
Enviado por Aisha em 07/04/2006
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