Quebrando o silêncio

Edson Gonçalves Ferreira

Ontem, à noite, enrolado numa manta

Assistindo à televisão, senti uma pressão sobre minhas pernas

E, quando olhei, vi que o Menino entrara

Ele começou a pular em cima da minha barriga

E gritava: Epa, cavalinho, epa!

Tomei-O nos braços e ralhei com Ele

Disse-Lhe que me respeitasse

Que eu ainda vivia o drama da perda de uma amiga

Ela arrumara para ir ser minha chefe

E, invés de festas, tivemos o seu velório

O Menino não ligou e, olhando-me bem no fundo dos olhos, disse-me

Na casa do meu Pai tudo está em festa

Ela já cumprira a sua missão

A vida é uma liturgia

O ritual de cada um está escrito

O seu, poeta, é mais longo, muito mais

Eu tentei fugir do seu olhar

Eu tentei parar de pensar

Queria apenas assistir à televisão e não pensar mais

O Menino, contudo, pegando-me pela mão, conduziu-me à sacada

E, mostrando a floresta lá no fundo, debaixo da lua branca, lembrou-me

Assim como as estrelas iluminam a sua vida

Vocês, humanos, têm que se lembrar de serem estrelas

Estrelas na vida de outras pessoas

E, assim, quando não estiverem mais aqui,

Ainda haverá um rastro de luz no céu

Das ações benfazejas que vocês fizeram

E, sorrindo, desapareceu.

Divinópolis, 07.01.08

edson gonçalves ferreira
Enviado por edson gonçalves ferreira em 07/01/2009
Código do texto: T1372347
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