Amar e Malamar

Que pode uma criatura senão,

entre criaturas, amar?

Amar e esquecer, amar e malamar,

amar, desamar, amar?

Sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Que pode, pergunto o ser amoroso,

sozinho, em rotação universal, senão

rodar também, e amar?

Amar o que o mar traz à praia,

o que ele sepulta e o que, na brisa marinha,

é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,

o que é entrega ou adoração expectante,

e amar o inóspito, o áspero,

um vaso sem flor, um chão de ferro,

e o peito inerte, e a rua vista em sonho,

e uma ave de rapina.

Este o nosso destino: amor sem conta,

distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,

doação ilimitada a uma completa ingratidão,

e na concha vazia do amor à procura medrosa,

paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor,

e na secura nossa, amar a água implícita,

e o beijo tácito, e a sede infinita.

Izan Lucena Lucena
Enviado por Izan Lucena Lucena em 09/01/2009
Código do texto: T1375189
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