Testamento
Testamento
Quando meu tempo findar
O mundo haverá de continuar seu ciclo
Mas algo há de permanecer contigo:
A impossibilidade de ocupar o meu lugar
Esse meu jeito louco de te amar
Esse nasceu e há de morrer comigo
Se é para o seu bem, ou se é castigo
Poderia em vão conjecturar
Poderia pensar, no lugar de amar
Seria tão diferente!
Diferente de quem sou
Mas igual a toda a gente
Amando desse amor que finda assim
Que se torna ódio de repente
Que diz amar, enquanto mente
Pois o amor se instala facilmente
Mas, depois que nasce, não tem fim
Meu amor permanecerá
Ah, com certeza!
Posto ser de outra natureza
Não está entre aquilo que perece
Ele é muito mais do que parece!
O verdadeiro amor não envelhece
Dentro do peito de quem ama
Ou de quem, sentindo, o reconhece
O meu calor na cama, em minha ausência
Há de haver alguém que te aqueça igual
em meu lugar
Há de haver alguém pra te enganar
Pode haver alguém que se pareça
Ou que desejes outro diferente
Mas nada há de fazer com que te esqueças
Do amor que existe entre a gente
Podes pensar que seja praga
Ou podes tomá-lo como um presente
O melhor, mais belo, que nunca estraga
Para carregares ternamente
Há de chegar o dia em que irei
Para nunca mais viver erradamente
Neste momento, partirei
Repentinamente, como vim
Mas, ao se acabar o que deixei
Seu peito há de, pulsando novamente,
Sinalizar que vivo, enfim
Não para escravizá-la eternamente
Mas para dar-lhe finalmente
O imenso amor que, unindo a gente
Pertenceu somente a mim
(Djalma Silveira)