COMO EU TE AMO!

Como se ama o silêncio, a luz, o aroma,

O orvalho numa flor, nos céus a estrela,

No largo mar a sombra de uma vela,

Que lá na extrema do horizonte assoma;

Como se ama o clarão da branca lua,

Da noite na mudez os sons da flauta,

As canções saudosíssimas do nauta,

Quando em mole vaivém a nau flutua;

Como se ama das aves o gemido,

Da noite as sombras e do dia as cores,

Um céu com luzes, um jardim com flores,

Um canto quase em lágrimas sumido;

Como se ama o crepúsculo da aurora,

A mansa viração que o bosque ondeia,

O sussurro da fonte que serpeia,

Uma imagem risonha e sedutora;

Assim eu te amo, assim; mais do que podem

Dizer-te os lábios meus, -- mais do que vale

Cantar a voz do trovador cansada:

O que é belo, o que é justo, santo e grande

Amo em ti.-- Por tudo quanto eu sofro,

Por quanto já sofri, por quanto ainda

Me resta sofrer, por tudo que te amo.

O que espero, cobiço, almejo, ou temo

De ti, só de ti pende: oh! nunca saberás

Com quanto amor eu te amo, e de que fonte

Tão terno, quanto amarga a vou nutrindo!

Esta oculta paixão, que mal suspeitas,

Que não vês, não supões, nem eu te revelo,

Só pode no silêncio achar consolo,

Na dor aumento, intérprete nas lágrimas.