VESTIDA DE RENDA...

Dentro da noite é que encontro

a companheira, navegante e passageira;

furtivamente vem dos mares,

dos desertos causticantes.

Surge também do espaço, do tempo,

da longitude, das distâncias mais remotas.

E eu a aguardo com lampejos

febris dos condenados,

trazendo no peito abertas as portas,

nos anseios dos apaixonados.

Então ela chega...

penetrante como lanças incandescentes.

Amo-a nos momentos de quietude,

na paz que recebo com sua vinda,

fazendo poéticas paredes escuras,

sombras fantásticas bailando,

dando companhia aos sós.

Amo sua presença que cura meus males,

absorvendo toda minha incapacidade.

Quero-a dentro das minhas noites,

na solitude ampliada pela escuridão.

Amo você nas rendas, dentro das sedas,

em retalhos de pano que emolduram,

contornam seu corpo vestido pela inspiração.