O ENLEVO DAS TUAS MÃOS

O ENLEVO DAS TUAS MÃOS

Josa Jásper

(Dedicado a uma grande mulher)

No começo do namoro,

por timidez ou decoro,

só caminhamos juntinhos.

Eu queria dar-te a mão,

mas disfarcei a intenção

nesses primeiros caminhos.

Mas, ao longo dos passeios,

foram-se os tolos receios

das primeiras caminhadas.

E, em breve, todos sorriam,

no momento em que nos viam

bem juntinhos,de mãos dadas.

Recordo bem, no cinema

a sutileza suprema

dessas mãos em meus cabelos!

E, feliz, fui envolvida,

nos gozos simples da vida

que as mãos permitem-nos tê-los.

No parque de diversão,

lembro teu toque de mão

que ainda me entusiasma!

E, com pouca escaramuça,

topei a montanha-russa,

meti-me no trem fantasma.

Após o nosso noivado,

caminhavas do meu lado,

da forma que eu sempre quis.

Dizias que eu era linda!

Tua mão, eu sinto ainda

em torno dos meus quadris.

À noite, ao clarão da lua,

por muitas vezes, na rua,

paramos pra nos beijar.

Lembro até, com muito gosto,

tuas mãos sobre o meu rosto

à meia-luz do luar...

Casamos, num belo dia,

em que a tua mão tremia

ao pôr o anel no meu dedo.

O anel, que o amor afiança,

selava a nossa aliança

que pra ninguém foi segredo!

Nessa noite, em nossa cama,

me entreguei como quem ama,

liberando os meus anseios.

Era a noite das delícias...

e, entre os beijos e as carícias...

as mãos gentis, nos meus seios.

Em meu temor de avião,

bastava apertar-te a mão

e logo eu me encorajava;

ou, pousada em minha coxa,

tal mão - que meu medo afrouxa -

toda a tensão dissipava.

Sempre quis levar-te à igreja!...

(hoje eu sei que talvez seja

algo de que menos gostas).

Por mais que me fosses franco,

sonhava, ao sentar no banco,

ter tuas mãos às minhas costas.

Essas mãos me surpreendiam

quando meus olhos cobriam,

guardando alguma surpresa.

Mas hoje... tudo acabou!

não há festa, onde eu estou,

nem há presentes na mesa!...

Neste leito de hospital,

eu já me sinto tão mal,

que nada me reconforta!

Devo ir para a U.T.I. ...

Quisera tuas mãos ali!

Sem elas, me sinto morta!

Lá dentro, quando eu entrar,

se ainda puder falar,

eu pedirei tua mão.

Entende-a, de onde estiveres!

Esquece as demais mulheres!

Da esposa, tem compaixão!

Se viva, eu não for achada,

põe a minha mão gelada

por baixo da tua mão!

E a mão do marido amigo

terei,afinal, comigo...

na alça do meu caixão!

Josa Jásper
Enviado por Josa Jásper em 26/02/2009
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