CORAÇÃO.

" Coração "

(Poetha Abilio Machado, 140309)

A noite fecha

minha vida é como o nada,

os meninos correm pela rua

me perdi em pensamentos solitários

existe em mim um ser imaginário

um louco cheio de verdades

um homem cheio de medos

O menino em mim corria junto

atrás da bola feita em panos

retalhos socados na meia velha

sem par, só pé todo remendado

agora alegria biltre de anatomias desconjuntadas

Meu coração apavora-se

a noite está um tanto fria

só a foto na estante desgastada

me recorda a infância que foi

nem mesmo posso me lembrar

da face de meus velhos pais.

O som que viaja pela sala

embala minhas lágrimas e meus ais

lamentos do passado

os dedos suaves meus

caminham pelos cabelos brancos agora

descortinam a memória dos cabelos de minha mãe.

Que dizer de meu velho ranzinza?!

que saudade que eu tenho

dias que o tempo obscuresceu

eu cresci, eu chorei, eu sou eu...

e neste caminho perdido

na partitura da música que me rege

fica minha lágrima escondida no coração!